A eloquência de quem sonha com os olhos abertos
Hoje é o meu primeiro dia de regresso à realidade, à vida rotineira que tantos lamentam, ora por terem, ou pelo inverso. Enquanto olhava para a paisagem, através da janela do comboio, várias reflexões surgiram sobre a total incapacidade de sermos coerentes. Refiro-me, pois, à necessidade constante de nos queixarmos de tudo como se nada nos conseguisse satisfazer. Como se todos os sonhos só tivessem importância até ao momento em que fossem concretizados, pois a partir do instante em que o são, pouco se perde a sentir o prazer da vitória, pois os tempos actuais obrigam-nos a ter inumeráveis ambições e projectos, dado o nosso estado miserável de infelicidade. Preocupa-me o pessimismo tão frequente actualmente. Preocupa-me conhecer tantas pessoas com depressões. Preocupa-me descobrir que afinal as causas não são assim tão importantes. E o que é, então, salutar e deveras fundamental para a nossa felicidade e realização pessoal? Sonhar de olhos abertos? Fugir constantemente do real, do palpável, como se fugíssemos do que provoca a dor e buscássemos no utópico e inatingível uma verdadeira sensação de prazer? Será por isso que sou monárquico? Bom, dada a complexidade da causa e do movimento, qualquer justificação será redutora. Mas isso será dito num outro texto. A mensagem deste é apenas esta: a depressão é uma perda de tempo, porque independemente do que quer que nos tenha acontecido, a verdade é que todo o Universo continua em funcionamento como uma grande máquina. E essa é única verdade absoluta que conheço. Dadas as felizes circunstâncias de existirmos, só nos resta estar gratos por isso, não perder tempo com disparartes e fazer algo de inequivocamente útil e de olhos abertos.
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"Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não estou"