Pieguices e mediocridades!


Revi a mini-série Os Maias, produzida pela Rede Globo, pela terceira vez. Ou antes, duas e meia. Eu explico! A primeira vez que tive o delicioso prazer de assistir a alguns episódios foi quando foi exibida na SIC. Seria 2004? Talvez… Como estava a estagiar no Centro Lúdico de Rio de Mouro, tinha que programar um vídeo, pois passava no período da tarde.


Só eu sei os nervos que passei por ficar diversas vezes com os episódios cortados, pois a SIC mudava o horário despoticamente. Nem mesmo com grandes margens de tempo nas programações fui bem sucedido!

Só quem conhece esta série sabe a importância de cada cena, a magnitude dos diálogos e o fascínio que o enredo exerce. Perder uma cena que seja deixa-nos na maior frustração e irritação, que já conheci até hoje!

Apenas no ano passado tive a possibilidade de maravilhar-me com todos os episódios na íntegra. Não conseguem sequer supor o meu grau de satisfação. Superior a uma boa sessão de sexo. Indubitavelmente! Nos episódios finais cheguei às lágrimas! Uma coisa tão rara, como encontrar uma nota de 50 euros no chão!


Fica-me uma dúvida em relação a Eça de Queirós. Descreveria ele a sociedade do seu tempo, com um olhar crítico, no que diz respeito à repressão sofrida pelas mulheres? Ou, num tom moralista e conservador, aconselhava-as a não abandonarem os maridos movidas por uma insensata paixão? Pois terminariam em desgraça, arrastando consigo o destino dos seus filhos… Quantas protagonistas deste género de romances terão escapado ao suicídio ou a um medonho e punidor destino?


O valor da família não deixa de ser fortíssimo e de provocar um tal impacto que nos deixa querer ser por alguns instantes hipócritas. Afinal, a pieguice aproxima-se da mediocridade! É um assunto que nos faz pensar o bastante de modo a não chegarmos a conclusão alguma e ficarmos ainda mais confusos.

Até que ponto reside a nossa felicidade no amor e não naqueles que nos rodeiam? Que sentimento supostamente sublime é este que nos faz perder a noção do que é a realidade? A mesma realidade que tanto inspirou escritores de todo o mundo civilizado na segunda metade do século XIX. Ficção ou realismo?

Comentários

Nawita disse…
Tanta informação!

Primeiro: o teu queixo duplo usa bikini?
Segundo: Tu a chorares ao ver um filme? E que mais, o balofo do Pai Natal sempre existe?
Terceiro: Adorava ver esta mini-série, amo Eça de Queirós!

Não vejo o autor como um moralista. Ele retratava a sociedade da época e fazia-o muito bem.
Quanto às mulheres que se deixavam enlouquecer pela paixão ao ponto de abandonarem marido e filhos, penso que não as critica. Mostra que tal acontecia, talvez por as mulheres serem obrigadas a casar cedo e nunca por amor. Os homens podiam dar ensejo às suas paixões que ninguém os criticava, estavam com as suas amantes e ao final da noite voltavam para casa.
A mulher apaixona-se e larga tudo sem pensar, é finalmente livre, mas a que preço! Ainda hoje acontece. E como sabemos todos actos têm consequências.
É verdade que a mãe é o pilar da família, no caso de Maria ela é vista como a encarnação do pecado, da luxúria e o resultado disso é mau para quem a rodeia. Ela também não acabou nada bem.
Há um pouco de tragédia à volta dela e do marido Pedro, que logo de inicio é descrito como um fraco. Já o Carlos não é assim. Ele e a irmã apaixonaram-se e no final do livro separam-se isso não quer dizer que mais tarde não refaçam as suas vidas.

É o amor que nos faz perder noção da realidade? Não será a paixão?

Muita coisa ainda por dizer, tenho que ir trabalhar mais um pouco ;)
Bruno Carvalho disse…
Quer parecer-me que Eça retrata a sociedade, mas existe algo de moralista nas suas histórias... Não terão havido mulheres que tenham deixado os seus maridos, no século XIX, e que tenham conseguido ser felizes, sem conhecerem a desgraça, o drama final e a morte?

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